quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Casa do Saci: trabalho cooperado e produção de subjetividades


*Esse texto foi elaborado em várias mãos: Marilia Capponi, Bruno Simões, Camila de Melo Miranda, Sabrina Pedrosa e Leonardo Pinho com a colaboração de Érica Venturini e Rejane Tito

“Atos subversivos  acontecem  em espaços de experimentações que ultrapassam nacionalidades e territórios, realizando-se em associações, produzindo atos emancipadores e surpreendentes existências”

A Casa do Saci é uma iniciativa da Associação Vida em Ação localizada à Rua Wanderlei, 702 – no bairro das Perdizes.
Fruto de discussões e ações do campo antimanicomial, a Casa é composta por três projetos de geração de trabalho e renda orientados pelas diretrizes da Economia Solidária com usuários de diversos serviços públicos de saúde mental da cidade de São Paulo. Inserido no contexto da Reforma Psiquiátrica Brasileira, o espaço integra um conjunto de ações no campo psicossocial, e privilegia um olhar voltado para expressão da subjetividade e das potencialidades humanas no acompanhamento do sujeito que sofre com o transtorno mental.

Esse sujeito experimenta, na maioria dos casos, uma condição desfavorável na competição por um lugar no jogo social. Devido ao frequente baixo grau de escolaridade, formação profissional precária, inserção preconceituosa no imaginário coletivo, habilidade intelectual restringida pelo uso de psicofármacos e histórico de maus tratos em internações em instituições psiquiátricas manicomiais, o “louco” enfrenta uma situação viciosa de limitação de sua capacidade produtiva. Nesse sentido o trabalho se configura como a possibilidade de acesso ao lugar onde reside a normalidade do ser humano e o respeito do outro - família, parentes, amigos e vizinhos.

Através de diferentes atividades produtivas, esses sujeitos – aqui chamados simplesmente trabalhadores - podem estabelecer um cotidiano de produção e reprodução de sua vida material, constituindo assim um horizonte de superação de sua condição marginal à sociedade.

A Casa do Saci pode ser entendida como um “condomínio” autogerido por diversos projetos e que subverte a lógica do capital, no momento em que coloca o sujeito como principal organizador de seu trabalho. Nesse espaço escolhe-se trabalhar de forma cooperada, autogestionária e solidária, proporcionando fluxos econômicos que permitem ao trabalhador estabelecer trocas sociais diferentes do que a sua condição de “louco” estabelece a priori.

Os três projetos que compõe a Casa do Saci são o Bar Saci, a Livraria Louca Sabedoria e a Loja de Comércio Justo e Solidário.

O Bar Saci funciona como bar, café, lanchonete e também organiza eventos, sendo autogerido por 15 trabalhadores, entre eles usuários e técnicos da saúde mental. O cardápio do bar é composto por produtos – pães, doces, tortas, salgados e pastas - de projetos inseridos nos CAPS da cidade.  A Livraria Louca Sabedoria vende livros novos sobre temas relacionados à Reforma Psiquiátrica Brasileira, SUS, clínica antimanicomial e funciona como sebo. É administrada por usuários e técnicos do CAPS Butantã.

A Loja de Comércio Justo e Solidário é um dos pontos de comercialização da Rede de Saúde Mental e Economia Solidária – movimento social que congrega 15 cidades do Estado de São Paulo e mais de 40 projetos de geração de trabalho e renda/empreendimentos da saúde mental – e é composta pelos seguintes projetos: Carinho Feito à Mão, Talento à Beça, Das Doida, Marcenaria A Ponte, Cobra Criada, Projeto TEAR, entre outros.

Além de um espaço aglutinador de iniciativas de geração de trabalho e renda, um processo coletivo de enunciação, a Casa do Saci proporciona e fomenta encontros de movimentos, oficinas, reuniões, atividades de formação, entre outras iniciativas que promovem experimentações emancipadoras voltadas à comunidade, sempre com o objetivo de disseminar a cultura antimanicomial e a economia solidária.
            
     Nesse sentido, a Casa fomenta a Oficina "Prosas, trovas e aliterações": uma atividade aberta que acontece todas às sextas-feiras das 14 às 16 horas e é destinada às pessoas que gostam de ler e escrever e que objetiva utilizar a leitura para promoção de trocas de experiências e criação de um espaço de expressão através da escrita.

Temos a honra de convidar os leitores desse pequeno ensaio a conhecer a Casa do Saci; o espaço funciona de quinta à sábado a partir das 16 horas – sempre com música ao vivo, som da vitrola ou DJ. Também trabalhamos com eventos agendados previamente. Venha nos conhecer e participar da construção de um mundo possível onde a diversidade é acolhida em todas as suas possibilidades.

(Esse texto foi pensado, repensado e produzido a partir da experiência prática de gestão junto aos trabalhadores do Saci. São eles: Cláudia Valéria Ribeiro, Didous Tuan Dreyer Danilevicz, Francisco Freire Bezerra, Gildásio Ferreira Braga, Jandi Cavalcanti Rocha, Carlos Eduardo Ferreira (Maycon Pop), Paula Ávila de Oliveira, Rafael Machado Pinto Gonçalo, Rangel Lemes Antônio, Renata Modesto, Risonete Fernandes da Costa, Solange Dias de Oliveira e Alessandro Campos

Nenhum comentário:

Postar um comentário